Adolfo, Bispo de Alger – Marmande, 1862
12. Homens, por que lamentais as calamidades que vós mesmos acumulastes sobre vossas cabeças? Desprezastes a santa e divina moral do Cristo: não fiqueis, pois, admirados, de que a taça da iniquidade tenha transbordado por toda a parte. O mal-estar se torna geral. A quem responsabilizar, senão a vós mesmos, que procurais sem cessar destruir-vos uns aos outros? Não podeis ser felizes, sem mútua benevolência. E como a benevolência pode coexistir com o orgulho? O orgulho! Está aí a fonte de todos os vossos males. Concentrai-vos, pois, à tarefa de destruí-lo, se não quiserdes perpetuar as suas funestas consequências. Um só meio se oferece a vós para isso, mas este meio é infalível; o de tomar por regra invariável de vossa conduta a lei do Cristo, lei que haveis repelido ou falseado em sua interpretação.
Por que tendes em tão grande estima o que brilha e encanta os olhos em detrimento do que toca o coração? Por que o vício que se desenvolve na opulência é o objeto de vossa reverência, enquanto só tendes um olhar de desdém para o verdadeiro mérito, que se oculta na obscuridade? Quando um rico libertino, perdido de corpo e alma, se apresenta em qualquer lugar, todas as portas lhe são abertas, todas as atenções são focadas nele, enquanto que, com muita dificuldade, se concede um gesto de proteção ao homem de bem que vive de seu trabalho. Quando a consideração que se concede às pessoas é medida pelo peso do ouro que elas possuem, ou pelo nome que trazem, que interesse podem ter essas pessoas em se corrigirem de seus defeitos?
Seria totalmente diferente, se o vício dourado fosse fustigado pela opinião pública, como o é o vício andrajoso; mas o orgulho é indulgente com tudo o que favorece. Século de cupidez e dinheiro – dizeis.
Sem dúvida! Mas por que deixastes as necessidades materiais sobrepujar o bom senso e a razão? Por que cada um quer elevar-se sobre o seu irmão? Hoje, a sociedade sofre as consequências.
Não esqueçais que um tal estado de coisas é sempre um sinal de decadência moral. Quando o orgulho chega aos últimos limites, é indício de queda próxima, pois Deus pune sempre os orgulhosos. Se os deixa subir, algumas vezes, é para lhes dar tempo para refletir e de emendar-se, sob os golpes que, de tempos em tempos, desfere em seu orgulho como advertência. Mas, em vez de se curvarem, eles se revoltam. Então, quando a medida está cheia, Ele a vira completamente, e sua queda é ainda mais terrível, quanto mais alto tenham se elevado.
Pobre raça humana, cujo egoísmo corrompeu todos os caminhos, reanimai-vos, entretanto! Em Sua misericórdia infinita, Deus envia um poderoso remédio aos teus males, um socorro inesperado para a tua angústia. Abra os olhos à luz: aqui estão as almas daqueles que vêm te lembrar os verdadeiros deveres. Elas te dirão, com a autoridade da experiência, como a vaidade e as honrarias de tua passageira existência representam pouca coisa em relação à eternidade. Eles te dirão que, nesta, será maior o que foi o menor entre os pequenos da Terra; que aquele que mais amou os seus irmãos será o mais amado no Céu; que os poderosos da Terra, se abusaram de sua autoridade, serão obrigados a obedecer aos seus empregados; que a caridade e a humildade enfim, essas duas irmãs que se dão as mãos, são os títulos mais eficazes para obter graça diante do Eterno.